Bissexualidade e suicídio estão mais conectados do que você imagina
Texto originalmente publicado em minha coluna "Ai que aBIsurdo!" no portal sobre diversidade A Coisa Toda.
Estamos no “Setembro Amarelo” — mês que serve para conscientizar as pessoas sobre os altos índices de suicídio que nossa sociedade registra ano a ano. E sim, existe uma conexão bastante forte entre a bissexualidade e o suicídio, e quando a pessoa bissexual é mulher, a coisa chega a ser ainda pior.
Mas, primeiro, o suicídio entre jovens LGBT
As taxas de suicídio e tentativas de suicídio entre jovens lésbicas, gays, bissexuais e transexuais é comparativamente maior do que entre a juventude em geral — e existem diversas pesquisas e estudos recheados de dados que comprovam essa triste realidade (Google it!). O motivo? Enquanto uma parcela ignorante da população acredita que identidades e orientações sexuais diferentes do normativo são doenças mentais — e isso justificaria os índices de suicídio -, a verdade é que o grande motivo para que membros da sigla LGBT acabem tirando suas próprias vidas é o preconceito, que leva muitas pessoas a desenvolverem transtornos depressivos e de ansiedade, procurando válvulas de escape para deixar a vida menos tortuosa — como as drogas, por exemplo. E somando uma vida toda de rejeições + depressão + ansiedade + uso de drogas licitas e ilícitas, o resultado muitas vezes acaba sendo o suicídio.
Ainda de acordo com pesquisas, jovens LGBT rejeitados pela família correm pelo menos seis vezes mais risco de sofrerem depressão e tentam oito vezes mais cometer suicídio do que as pessoas que não passam por esse tipo de situação. Outra estatística assustadora diz que um a cada catorze LGBTs tentam se matar em algum momento de suas vidas, e a chance de uma pessoa não heterossexual se suicidar é cinco vezes maior do que um indivíduo hetero, aceito pela sociedade como “normal”.
Mulheres bissexuais e a luta pela sobrevivência
Infelizmente não é novidade que as pessoas LGBT estão mais propensas a sofrer transtornos psicológicos, mas especificamente as mulheres da letra “B” carregam um peso a mais do que as pessoas “L” e “G” (não vamos entrar na questão da letra “T” neste texto, mas é inegável que os indivíduos mais propensos a desenvolverem problemas mentais chegando ao suicídio, ou ainda serem assassinados por conta de sua identidade, são os transsexuais). E tem uma pesquisa relevante, divulgada em 2015, comprovando essa teoria.
No ano passado, a Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres publicou na revista científica “Journal of Public Health” um estudo atestando que as mulheres bissexuais sofrem mais problemas de saúde mental do que as mulheres lésbicas. Contrariando a falácia da passabilidade (que diz que, enquanto a lésbica sofre mais opressão por “parecer lésbica” para a sociedade comum, a bi teria uma “passabilidade hetero” e, portanto, não seria oprimida por conta de sua sexualidade), o estudo mostrou que as bissexuais são mais marginalizadas, inclusive na comunidade LGBT.
De acordo com a pesquisa, as bissexuais têm 64% mais chance de enfrentar distúrbios alimentares do que as lésbicas; 37% a mais de chance de praticarem automutilação; e são 26% mais propensas a sofrer com quadros de depressão. O estudo concluiu que, apesar das bi não “apanharem na rua” por serem bissexuais, essas mulheres acabam comunicando menos sua orientação sexual a amigos, familiares e companheiros, permanecendo “no armário” por muito mais tempo do que a média das pessoas gays e lésbicas. Outro dado revelado pela pesquisa britânica diz que as mulheres bissexuais costumam ter menos relacionamentos estáveis — provavelmente pelo fato de seus companheiros e companheiras não aceitarem sua bissexualidade, já que comumente pensam que a pessoa bissexual fatalmente sentirá falta do “sexo oposto” e acabará traindo, ou encerrando o relacionamento.
Podemos citar diversos exemplos de preconceitos sofridos por bissexuais, e poderíamos fazer uma longa lista de motivos pelos quais essas pessoas acabam ficando no armário por mais tempo do que os demais, mas podemos resumir todos eles com uma palavrinha que ainda é rejeitada por muitos, tanto na luta LGBT quanto no movimento feminista: bifobia. Enquanto muitos(as) tiram sarro e “lacram” com as amiguinhas igualmente preconceituosas no Facebook fazendo piadinhas e afirmando que “bifobia não existe”, nós, que vivemos na pele esse preconceito, batemos o pé no chão e gritamos que bifobia existe sim e, no próximo dia 23 de setembro, nos uniremos (mesmo que virtualmente) para celebrar a bissexualidade e gritar por visibilidade.