A Escala Kinsey

Patricia Gnipper
3 min readMar 6, 2017

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Texto originalmente publicado em minha coluna "Ai que aBIsudo!" no portal sobre diversidade A Coisa Toda.

Na semana passada eu desabafei falei sobre bifobia e botei pra fora um pouco da minha revolta com relação aos estigmas que caem sobre nós, bissexuais, e sobre o quanto muitas pessoas acham difícil entender que a gente se interesse por pessoas de qualquer gênero, ou independente de gênero, mesmo dentro do movimento LGBTQX. Então, pensei que essa semana seria legal falar sobre a Escala Kinsey.

A escala o quê?

A Escala Kinsey classifica a orientação sexual das pessoas em uma escala de 0 a 6, sendo zero referente ao comportamento exclusivamente heterossexual e seis ao comportamento exclusivamente homossexual.

No meio disso, existem níveis variados de bissexualidade, que representam desde as pessoas que se atraem pelo gênero oposto, mas sem exclusividade, até aquelas que preferem pessoas do mesmo gênero, também sem que isso seja uma regra.

Alfred Charles Kinsey foi um biólogo norte-americano bastante interessado na sexualidade humana, realizando diversos estudos e pesquisas para entender melhor como se dá a orientação sexual das pessoas. Na década de 60, com o avanço da “revolução sexual” nos Estados Unidos, as publicações de Kinsey influenciaram muito os valores culturais do país e, consequentemente, de todo o mundo ocidental.

Para Kinsey, diferentemente do senso comum, os seres humanos não se classificam quanto à sexualidade em apenas duas categorias (homo e heterossexual), mas apresentam diferentes graus de interesse sexual pelos variados gêneros.

No entanto, apesar desse pensamento revolucionário para a época, sua escala não abordou a transexualidade, sendo bastante criticada na luta pela visibilidade trans por considerar apenas pessoas cissexuais. Mesmo assim, a escala também contempla a assexualidade, aquela identidade que diz respeito às pessoas que não sentem atração sexual por nenhum gênero.

E qual a utilidade disso?

Bom, mesmo que a sexualidade humana não seja tão simples assim a ponto de ser definida com exatidão em uma escala de 0 a 6, a existência de uma métrica dessas é super importante para que um tabu seja derrubado: o que diz que bissexuais são pessoas confusas, que não sabem o que querem, que a pessoa ou é gay ou é hétero. A existência dessa escala pode ajudar pessoas mais, digamos, ignorantes (e que queiram saber mais), a entenderem que muita coisa acontece entre o 8 e o 80.

Afinal, se na época dos nossos avós um respeitado profissional estudioso da Sexualidade Humana realizou uma pesquisa com pessoas reais e chegou a essa conclusão, por que em 2015 ainda temos que lidar com gente dizendo que nossa sexualidade não é válida? Bicha, melhore!

Importante: não se deve usar a Escala de Kinsey como uma regra, mas sim como um guia para o entendimento das variadas orientações sexuais. A escala foi projetada para acomodar a fluidez da sexualidade dos indivíduos, uma vez que, em determinado momento de vida, é possível que a pessoa bissexual se interesse mais por um gênero do que por outro. Isso é perfeitamente “normal”!

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Patricia Gnipper
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Written by Patricia Gnipper

Jornalista de ciência e tecnologia com um pé em cultura, comportamento e diversidade. Reúno aqui os textos que mais me representam, e dos quais sinto orgulho!

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